A maior suscetibilidade
ao câncer de pele não depende apenas da exposição à radiação ultra violeta.
As
pessoas de pele branca e cabelos vermelhos sabem – às vezes devido a dolorosas
experiências – que são mais suscetíveis aos efeitos danosos dos raios
ultravioletas do Sol, incluindo queimaduras, envelhecimento da pele e um risco
maior de cânceres de pele. Mas um estudo publicado em 2 de novembro na Nature sugere que, em
ratos, o pigmento responsável por essa coloração tem um papel no
desenvolvimento do melanoma.
“Existe
algo no contexto genético dos ruivos que se comporta de maneira carcinogênica,
independentemente dos raios UV”, aponta David Fisher, biólogo especializado em
câncer do Hospital Geral de Massachusetts em Boston, que conduziu o estudo.
“Isso significa que proteger-se contra os raios UV não seria o bastante”.
Se
comparados a pessoas com peles mais escuras, quem tem a pele clara e sardenta,
e cabelos vermelhos, produz uma forma diferente do pigmento melanina. Essa
forma vermelho amarelada, chamada de feomelanina, é menos eficaz em proteger a
pele de danos provocados por raios UV que a forma mais escura, a eumelanina. A
diferença é produzida por uma mutação no gene MC1R.
Há
várias indicações que o maior risco de melanoma em ruivos não se deve apenas à
exposição aos raios UV. Fisher e sua equipe quiseram investigar o contexto
molecular desse risco maior.
Os
pesquisadores observaram o desenvolvimento de melanomas usando modelos de ratos
de pele cor de oliva, ruivos e albinos. O último grupo tinha o mesmo background
genético dos ratos de pele mais escura, mas não tinha a enzima necessária para
sintetizar a melanina. Os pesquisadores também modificaram os genes de cada
grupo para que eles fossem mais suscetíveis a desenvolver verrugas benignas
que, de acordo com Fisher, é um provável sinal do desenvolvimento de melanomas. Sem necessidade de luz solar
Os
pesquisadores planejaram expor os ratos à luz UV e monitorar diferenças no
desenvolvimento de melanomas. Antes de da exposição, no entanto,
aproximadamente metade dos ratos ruivos já havia desenvolvido melanomas. Fisher
declara que ele e sua equipe ficaram chocados. “A primeira coisa que fizemos
foi levar um medidor de raios UV para o laboratório para nos certificarmos de
que não havia nenhum raio UV sendo irradiado pelas lâmpadas, ou coisa assim”,
explica ele. “E não havia”.
Os
pesquisadores sugerem que o maior risco de melanoma poderia ter algo a ver com
o processo de produção do pigmento, ou um subproduto dele, em células que
contêm melanina, chamadas de melanócitos.
Eugene
Healy, dermatologista clínico da University of Southampton, no Reino Unido,
observa que apesar de o mecanismo ser interessante, é provavelmente uma causa
menos comum de melanoma que a radiação UV. De fato, no Reino Unido, 8 de cada
10 casos de melanoma se devem à exposição a raios UV. Em humanos, a maioria dos
melanomas se desenvolve na pele que recebe luz solar. “Quase nunca vemos
melanomas, por exemplo, nas nádegas”, aponta Healy.
Para
complicar tudo, um dos estudos do próprio Healy, publicado em 2010, sugere que
a feomelanina poderia proteger contra os efeitos da radiação UV em outro tipo
de células da pele, o queratinócito.
A
mensagem de tomar cuidado com o sol não muda por causa dos últimos resultados.
“O UV está ligado de maneira muito convincente à formação da maioria dos tipos
de câncer de pele”, lembra Fisher. “Uma das mensagens mais importantes dessa pesquisa
é evitar a suposição de que os raios UV não são perigosos”. Ele ainda adiciona
que é possível que a exposição a raios UV piore o mecanismo carcinogênico do
pigmento vermelho.
Healy
está se esforçando para evitar provocar alarme entre as pessoas de compleição
clara. “Seja qual for o risco, ele sempre esteve lá. Mas nós não vemos muitos
melanomas espontâneos em ruivos, então não deveríamos enviar-lhes uma mensagem
preocupante”.
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