Excerto do conto "Bárbara Ruiva", um inédito da autoria de Rómulo de Carvalho, recentemente publicado pela Página a Página, onde o autor, o professor de Físico-Química que haveria de adoptar o pseudónimo de António Gedeão, narra o encontro com Bárbara:
"Ela tinha os cabelos ruivos, ondulados com suavidade, soltos e sedosos. As poeiras, intensamente iluminadas, bailavam-lhe em torno e ganhavam a dulcíssima tonalidade ruiva. Na concavidade das ondulações breves, o Sol escorria e parecia acomodar-se em nichos de luz mais discreta. Um halo vaporoso espiritualizava-lhe os contornos e fazia perceber suavíssima penugem que faiscava com tons metálicos de cobre.
Ela falava, de costas para mim, e, de vez em quando, movia a cabeça ao sabor da conversa. Cada movimento daquela cabeça sobrenatural enchia de confusão o mundo luminoso das poeiras. Os grãozinhos projectavam-se a distância, salpicavam a luz, revoluteavam em turbilhões doidos, atropelavam-se, chocavam-se e, pouco a pouco, procuravam o equilíbrio perdido, aquietavam-se, refluíam para os fios ruivos do cabelo.
(...) Decerto um feixe de cabelos lhe caiu sobre os olhos, pois vi, na faísca fulgurante de luz, uma pequena mão que se levantou à altura da testa e afastou a fiada ruiva. Foi tão grande o alvoroço de poeiras que as vi disparar, vertiginosamente, em linhas rectas, como saltam as partículas incandescentes duma fogueira que se espalha com os pés. Deve ser assim o deflagrar dos sóis que enxameiam o universo. Aquele, era um sol de cobre. A minha cara, quase na obscuridade, devia ter a tonalidade ruiva. Sentia-a nos olhos, nas faces, nas mãos e em tudo o que me rodeava. A cabeça dela cortava totalmente o feixe de luz que incidia naquele mar de fogo e se reflectia abertamente sobre mim, me aquecia e me narcotizava".
Ela falava, de costas para mim, e, de vez em quando, movia a cabeça ao sabor da conversa. Cada movimento daquela cabeça sobrenatural enchia de confusão o mundo luminoso das poeiras. Os grãozinhos projectavam-se a distância, salpicavam a luz, revoluteavam em turbilhões doidos, atropelavam-se, chocavam-se e, pouco a pouco, procuravam o equilíbrio perdido, aquietavam-se, refluíam para os fios ruivos do cabelo.
(...) Decerto um feixe de cabelos lhe caiu sobre os olhos, pois vi, na faísca fulgurante de luz, uma pequena mão que se levantou à altura da testa e afastou a fiada ruiva. Foi tão grande o alvoroço de poeiras que as vi disparar, vertiginosamente, em linhas rectas, como saltam as partículas incandescentes duma fogueira que se espalha com os pés. Deve ser assim o deflagrar dos sóis que enxameiam o universo. Aquele, era um sol de cobre. A minha cara, quase na obscuridade, devia ter a tonalidade ruiva. Sentia-a nos olhos, nas faces, nas mãos e em tudo o que me rodeava. A cabeça dela cortava totalmente o feixe de luz que incidia naquele mar de fogo e se reflectia abertamente sobre mim, me aquecia e me narcotizava".
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